Postergação da maternidade

Com a introdução da pílula anticoncepcional no início da década de 60, a mulher ganhou o poder de controlar o processo reprodutivo. Isto lhe possibilitou crescer em outras áreas que não somente a maternidade, aumentando a procura por uma graduação escolar mais elevada e a busca por cargos de trabalho até então exclusivamente masculinos. Alem disso, possibilitou às mulheres a escolha sobre o fato de querer ou não ter filhos, com várias optando por não tê-los.

Entretanto, não se pode creditar somente aos métodos contraceptivos seguros e à carreira profissional a postergação da maternidade e a redução do número de filhos por casal. Outros fatores como instabilidade econômica, demora para encontrar um parceiro, má distribuição das tarefas domésticas e de cuidado com os filhos (quando existe uma sobrecarga para o lado da mulher) e aumento no número de divórcios também são fatores que influem no desejo e no momento da maternidade.

Por outro lado, existem vários aspectos positivos na maternidade mais tardia como uma estrutura familiar mais sólida e uma melhor situação econômica dos pais.

Porém, do ponto de vista exclusivamente biológico, a postergação do processo reprodutivo tem resultado em casais tendo filhos em um período onde a fertilidade da mulher já se encontra em declínio. Sabe-se que a fertilidade começa a diminuir aos 25 anos, acelerando mais seu declínio a partir dos 35. Estudos recentes mostram que, sob condições naturais, 75% das mulheres de 30 anos engravidam em até um ano de tentativa, mas somente 44% conseguem engravidar neste mesmo período de tempo aos 40 anos. Além disso, as taxas de abortamento espontâneo também aumentam com a idade materna, dificultando ainda mais o processo reprodutivo.

Pesquisas que entrevistam jovens mostram que a maioria não tem conhecimento de que a idade da mulher pode ser um obstáculo sério à reprodução. Dessa forma, o que vemos é que entre a população feminina com escolaridade maior tem havido uma postergação da maternidade. É importante que os adultos jovens saibam dos riscos desta postergação e que políticas específicas de suporte para a mulher que trabalha e tem filhos sejam desenvolvidas a fim de que se criem condições mais favoráveis à maternidade. Mesmo assim, sabemos que muitas mulheres voluntariamente continuarão postergando o momento de engravidar, mas, neste caso, terão tido a oportunidade da escolha consciente.

 

Dra.  Isabel de Almeida